Agencia Prensa Rural
Mapa do sítio
Suscríbete a servicioprensarural

Colômbia, uma guerra silenciada
Luis Carapinha / quinta-feira 31 de Agosto de 2006
 

O mês que agora chega ao fim foi particularmente pródigo em acontecimentos reveladores do carácter que marca o nosso tempo. Uma evidência desde logo salta à vista: o imperialismo, apesar do seu poderio, não tem solução para os grandes problemas da humanidade.
Bastará referir que no Líbano, apesar da impunidade dos crimes contra a humanidade do Estado sionista e das grandes ameaças que subsistem, a máquina de guerra israelita sofreu o maior revés das últimas décadas. E que no Afeganistão, a intervenção concertada imperialista porfia nos massacres diários que a comunicação social dominante, ordeira e acrítica, reproduz no seco registo de mortos talibans. Não obstante, Agosto viu disparar as baixas das forças ocupantes dos EUA e da NATO, mostrando que cresce ali também a resistência contra a ocupação imperialista.

Uma mediatizada comoção de terror polvilha o mundo, depenando vulneráveis «opiniões públicas» e alimentando a estratégia terrorista do imperialismo. Nos EUA, multiplica-se a banalização de uma nova guerra mundial, enquanto sobem de tom as ameaças sobre o Irão. Com o concurso precioso da contra-informação, ganha corpo a tendência de criminalização de qualquer resistência ou oposição anti-imperialistas. O quase esquecido caso colombiano, onde em Agosto o presidente Uribe, representante da direita mais reaccionária, iniciou o seu segundo mandato, é, neste aspecto, paradigmático.

Na Colômbia, ponta de lança da manobra subversiva dos EUA na América Latina, o imperialismo engendrou uma verdadeira guerra de extermínio ocultada pelas grandes centrais de comunicação do capital. A experiência política da União Patriótica foi afogada em sangue. Milhares de dirigentes políticos, sindicalistas e camponeses foram assassinados nas últimas duas décadas. Embora noutra escala, a guerra suja prossegue nos dias de hoje. Desde a subida ao poder de Uribe, em 2002, perto de 140 comunistas foram mortos. Só em 2005, 70 sindicalistas colombianos pereceram, vítimas da política de terra queimada das classes dominantes. No país que a oligarquia designa de «democracia mais antiga» do sub-continente, a situação humanitária é calamitosa. Existem mais de três milhões de deslocados, milhares de prisioneiros políticos. A tortura é uma prática comum desta «democracia» onde a esmagadora maioria dos crimes contra a humanidade e de genocídio da responsabilidade dos paramilitares e do Estado, permanecem na completa impunidade, e onde a polarização social é acentuada.

Apesar da aliança estratégica com os EUA, articulada nos Planos Colômbia e Plano Patriota, e o regime de Uribe não só não logrou derrotar a resistência das FARC e impor uma solução militar para um «conflito social armado» com raízes profundas no país, como viu a coligação das forças de esquerda, na qual o PCC desempenha um importante papel, obter nas eleições presidenciais deste ano o seu melhor resultado de sempre.

O combate ao narcotráfico do Plano Colômbia, que o jornal The New York Times afirma agora ter fracassado, serve apenas de pretexto à militarização da Colômbia. São conhecidas as ligações entre o tráfico de droga e os paramilitares e entre estes e a oligarquia do regime de Bogotá. Por outro lado, é impossível sonegar que os EUA constituem o principal mercado consumidor de cocaína colombiana, e que a fatia dourada do tráfico de droga é absorvida pelo seu sistema financeiro, o que é demonstrativo da sua hipocrisia.

Na estratégia imperial, a Colômbia figura hoje como laboratório. A manobra de «desmobilização» do paramilitarismo significa a sua redistribuição estratégica no país, ao serviço de um projecto corporativista de recorte fascista, e em estreita conexão com o reforço da posição das multinacionais. Simultaneamente, os paramilitares reforçam a sua pressão na extensa fronteira com a Venezuela, com claros objectivos desestabilizadores.

Contra a política criminosa do capital, na Colômbia, como no mundo, impõem-se profundas transformações de carácter progressista, que só a luta dos trabalhadores e dos povos acabará por assegurar.